O homem sem relógio (Carlos Henrique Costa. Editora Circuito) [POE000000]

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    Subtítulo do Livro: Sonetos dissonantes
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    Não fosse o subtítulo, "Sonetos dissonantes", dificilmente o leitor perceberia que "O homem sem relógio", de Carlos Henrique Costa, é composto integralmente por eles. Aliás, muito aceitável reduzirmos a definição da forma a uma de suas características basilares: ser composta por 14 versos. O poeta, com domínio técnico dos mais evidentes, faz variações sobre a forma, como um músico poderia fazê-las sobre um tema. Se no conjunto há perfeitos sonetos latinos, como "Contradança à beleza", ou, no estilo inglês, "Soneto do amor transtornado", o livro oferece ao leitor um sem-número de possibilidades, de sonetos em rima única, como "Em revista" ou "Se morreu Paco de Lucía". Também existem outros em versos muito longos, como “Cortesia milenar”, passando por excelentes exemplares em versos curtos, por sonetos estritamente exatos na métrica e nas rimas até aqueles em versos livres e brancos. Carlos Henrique Costa, poderíamos afirmar, vai da perfeita ortodoxia à blasfêmia, e volta de uma a outra, sempre oferecendo nos seus versos uma visão aguda da estranha e compulsória missão de existir, bem como da mais autêntica forma de não pensarmos nela. O amor, na mais crua carnalidade ou em sua aparência mais incorpórea, não existiria sem a primeira. O homem sem relógio é desses livros que mostram de que maneira um poeta pode dar-se ao luxo da liberdade, ainda mais numa terra onde a miséria crítica sempre se ateve aos receituários obrigatórios. (Texto de Alexei Bueno)